A violência é uma construção multifacetada da realidade que se solidifica e se fortifica enquanto suportada pelos diversos lados do fenômeno social. A escola, como agência social, não estaria, portanto isenta, tampouco neutra nessa problemática da violência que a atinge em seus alicerces e amedronta sua comunidade.
A contingência desta situação que arrisca vidas e estanca esperanças tem suscitado debates que se estendem desde a apreensão dos vários conceitos sobre violência e violência escolar, até o conhecimento das várias dimensões do fenômeno. As idéias de Hannah Arendt e Michel Maffesoli sobre a violência e as idéias de Eric Debarbieux e de outros autores dentre os quais Marília Spósito, Vera Candau, Eloísa Guimarães e Áurea M. Guimarães sobre a violência escolar vieram respaldar este estudo de caso sobre o fenômeno numa escola pública estadual de Belo Horizonte, onde a violência explícita tem sido alvo de preocupação social.
A abordagem etnográfica que norteou a pesquisa permitiu um contato mais estreito com a escola no seu cotidiano, com a intenção de uma aproximação com a realidade envolvida na violência que adentrou pelos seus muros. Uma observação atenta da dinâmica interna da instituição, aliada a entrevistas com seus atores e uma análise documental apoiou a investigação que focaliza a violência escolar na perspectiva da percepção de seus atores a respeito desse fenômeno da sua repercussão no cotidiano da escola.
A interlocução permanente entre os dados da realidade e as idéias desses estudiosos do assunto possibilitou um conhecimento e compreensão da violência na instituição, ratificando em muito as idéias de pesquisas já realizadas, ressalvando-se algumas particularidades.
Concluiu-se que a violência é de dentro e de fora da escola e a violência institucional que a invade tem um colorido mais forte e atinge a todos que nela militam. A escola é vítima de um sistema burocrata e massificador e é também algoz na tarefa de reproduzir a anti-democracia. A deficiência na negociação de limites debitada à insegurança e ao medo enfraquece as relações entre seus pares, desorganiza seu ambiente, limita suas ações e frustra seus objetivos. E isto bem poderia se denominar de violência latente porque constitui o potente fermento pelo qual a violência explícita encontra vazão.
Aponta-se como alternativa a instauração da escola cidadã, e a consideração de sua individualidade pelo poder constituído com atenção efetiva às suas necessidade materiais e organizacionais. E, destaca-se nela a necessidade urgente de promover a verdadeira valorização do professor através da remuneração condizente com sua responsabilidade em fazer educação e da oportunidade de uma formação profissional continuada em que se incluam programas que privilegiem, não somente o seu crescimento técnico-científico, mas também o seu crescimento sócio-afetivo e seu equilíbrio emocional.
Palavras-chave: violência; violência escolar; percepção; cotidiano escola.